Panteão Celta - Cerridwen
- Admin
- 3 de jan. de 2017
- 4 min de leitura
Para iniciar a categoria Magia em Brigantia, resolvi fazer uma série de postagens sobre diversos Panteões, e logo de cara, escolhi o Celta. Mas vamos caminhar devagar. O que é um Panteão? Se você procurar num dicionário, vai ver que essa é a palavra que designa o conjunto de Deuses de uma determinada cultura politeísta. Por exemplo, na Grécia Antiga, o povo venerava vários deuses. Em Roma, os deuses eram os mesmos, embora seus nomes fossem diferentes. Surge aí o Panteão Greco-Romano. Como não existe apenas uma cultura politeísta, você pode imaginar que existam inúmeros panteões espalhados pelo mundo. Mas hoje, eu começo a série sobre os Deuses do Panteão Celta.
O povo celta é, até hoje, um mistério não completamente desvendado. Sua História é extremamente rica e, também, hipotética. Hipotética porque os registros de sua existência são bastante controversos. Sua cultura era muito forte, tanto que em alguns lugares que tiveram sua origem com tribos celtas, certos costumes ainda são mantidos. Escócia, Irlanda, Bretanha, Cornualha, País de Gales e Península Ibérica são, comprovado por estudos genéticos, os lugares com traços celtas mais intensos. Para esse povo, a divindade máxima era feminina, a Deusa Mãe, cuja manifestação era a propria natureza. Sendo assim, mesmo não sendo uma sociedade matriarcal, era a mulher que dominava, soberana, as forças da natureza.
Cerridwen

Ela é a Deusa da Lua do panteão galês, sendo chamada de Grande Mãe e A Senhora. Deusa da natureza, Cerridwen era esposa do gigante Tegid, mãe de uma linda donzela, Creirwy, e de um feio rapaz, Avagdu. Os bardos galeses chamavam a si mesmos de Cerddorion, filhos de Cerridwen. Há uma lenda que diz que o grande bardo Taliesin, druida da corte do rei Arthur, nascera de Cerridwen e se tornara muito poderoso após tomar algumas gotas de uma poderosa poção de inspiração que Ela preparava em seu caldeirão. Ela é, ainda, a deusa da Morte, da fertilidade, da regeneração, da inspiração, magia, astrologia, ervas, poesia, encantamentos e conhecimento.
Representada como uma anciã de longos cabelos brancos, tem o conhecimento de todos os mistérios que só a idade e a experiência podem proporcionar. Ela é a Deusa que devemos reverenciar nos momentos de dificuldades e anulação de qualquer tipo de malefício. Ela é a Deusa do caos e da paz, da harmonia e da desarmonia. Para os galeses, Cerridwen é uma Deusa Tríplice (donzela, mãe e anciã), cujo animal totêmico é uma grande porca branca. Ela é a mãe que conserva todos os poderes da sabedoria e do conhecimento. O caldeirão, seu maior símbolo, representa a fertilidade e a regeneração, por isso também era deusa dos bosques e dos animais. Os rituais para Ela eram e ainda costumam ser feitos na lua minguante. Conta uma lenda que Cerridwen, esposa do nobre Tegid do norte de Gales, tinha uma filha, que era a mulher mais linda de todo o mundo, e um filho terrivelmente feio. Cerridwen usou sua magia para preparar uma “poção da inspiração e de toda sabedoria”, no intuito de torná-lo o sábio vidente mais famoso de todos os tempos, pensando em compensá-lo por sua feiura.
Durante o ano ela colheu flores, folhas e ervas, que cozinhou em seu caldeirão. Um ano e um dia fervilhou a poção, quando três gotas respingaram no dedo do jovem ajudante Gwion, encarregado de manter o fogo aceso. Sem pensar, ele levou o dedo à boca. Três gotas da poção mágica foram suficientes para que diante dele se abrissem passado, presente e futuro, incluindo o conhecimento do perigo que lhe advinha da própria Cerridwen, assim que esta soubesse do que tinha acontecido. Deixando pra trás o caldeirão fervente, ele fugiu na forma de um coelho, depois um peixe, então um pássaro, mas a Deusa Mãe o perseguiu na forma de cachorro, depois uma lontra e então um falcão. Finalmente Gwion se reduziu a um grão de trigo, mas foi engolido por Cerridwen, transformada em galinha preta. Ela engravidou e o trouxe ao mundo como um menino tão bonito, que ela não foi capaz de matá-lo. Em vez disto, ela o escondeu num saco de couro e o jogou ao mar, onde foi pescado pelo nobre Elffin, “o sem sorte”, na véspera de Beltane, e recebeu o nome de Taliesin.
Cerridwen chega em nossas vidas anunciando um tempo de morte e renascimento. Quando algo está para morrer, devemos permitir que se vá para que algo novo possa nascer. Não devemos encarar a morte como um fim, mas um renascimento. A totalidade só é conquistada no momento que dissermos sim e dançarmos com a morte e o renascimento. Cerridwen diz a você que sempre receberá de volta o que der a ela, portanto entregue-se e renascerá.
A mais antiga forma da Deusa Tríplice, é ao mesmo tempo a Deusa da Fertilidade e da Morte, pois o mesmo poder que leva as almas para a morte, as traz de volta à vida. De seu ventre parte toda a vida e a vida provém da morte. Quando a Lua não brilha no céu, lembramos que não somos feitos apenas de luz e, por isso, também devemos nos encontrar com nossa sombra. Não para duelar com ela, mas para convidá-la para uma dança mais antiga que o próprio tempo, uma dança sagrada que nos faz aceitá-la como parte de nós. Unindo nossas duas metades, Luz e Sombras, nos tornamos completos, assim como Cerridwen.
Você pode ler mais sobre Cerridwen em "The Mabinogi” (1977) de Patrick K. Ford.
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